
Ver a Sheron com esse cabelo escovado e com aspecto de oleoso-meio-molhado me fez pensar nisso. Não é o fato isolado de estar escovado. Até porque discordo dessa onda de "em terra de chapinha, quem tem cacho é rainha". Defendo a liberdade de poder ser como quiser e, principalmente, de poder ser como é! O problema é que a revista celebra a brasileirice, a diversidade. E aí vem e me escova o cabelo crespo pra foto da capa. Pra mim, soou como dizer: "vamos celebrar a miscigenação, mas só se ela clarear um pouquinho o preto". Eu me recuso a engolir isso daqui pra frente.
Vamos pensar pelo outro lado, pra ver se estou exagerando mesmo? As outras atrizes, Paolla Oliveira e Mariana Ximenes, também estão com os cabelos um pouquinho modificados. Úmidos e com esse visual meio "não lavo faz três semanas". No editorial, elas são sereias e acabaram de sair do mar. No caso da Paolla e da Mariana, até entendo que a textura ao sair do mar fosse essa. Mas o da Sheron... Alguém até comentou isso no site da revista, em meio a discussões sobre uso excessivo de Photoshop e disputas opinativas de qual sereia seria a mais bonita, na página da apresentação da capa de setembro, tentando justificar a textura do cabelo da Sheron:

Não, amor, não desmonta, não. Meu cabelo natural úmido não fica parecendo que fiz chapinha e depois passei óleo. Não! Não desmonta. No final, só me resta pensar que a tentativa da beleza da capa da revista foi de padronizar as "sereias brasileiras", ao invés de celebrar as suas diversas formas. E pra agradar os olhos da maioria, vamos alinhar o crespo.

... porque, né, se uma menina de cabelo crespo vai ao salão certamente é pra sair de lá alisada. tsc... tsc... cansativo!
E porque falar sobre isso? Pelo simples motivo de que, sem discussão, nada avança. Pela crença, talvez ingênua, de que quanto mais celebrarmos a beleza em suas diversas formas, mais bonita, igualitária e mais feliz será a geração dos nossos filhos, dos nossos netos e, assim por diante. Não quero ver meus filhos sendo diminuídos pelos coleguinhas pelo simples fato de ter pele preta e cabelo crespo. Infelizmente, tenho plena certeza que os filhos de pessoas que pensam como essas abaixo (infelizmente são tantaaaas) provavelmente irão reproduzir pensamentos como esses:

O que nos resta é tentar fazer com que a nossa autoestima modifique o olhar do outro. Faça o outro pensar: na essência, somos iguais! Aos meus filhos, quero ensinar um orgulho imenso e contagiante de ser simplesmente como somos. E quero poder pensar que revistas serão minhas aliadas no futuro. Principalmente as de moda! No caso da Revista Glamour de Setembro, teria que pular a capa e ir direto no editorial "Poder Afro" que, aí sim, traz a Sheron de cabelos naturais e lindos, me fazendo celebrar a diversidade.
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